quinta-feira, 13 de novembro de 2014

- Como você esta se sentindo?

- Não sei. Depende da hora. Tem horas que eu fico serena e leve como uma pluma. Essa leveza não costuma durar nem cinco minutos. Logo eu me culpo por isso. Ora pela leveza se transformar numa espécie de vazio; meu peito vira um peso morto, uma tristeza nostálgica. Um rumo perdido. Embora antes, quando eu carregava em mim o Peso do Mundo no coração, o meu rumo também era incerto, ou não. Talvez o rumo fosse o mais certo possível, o sofrido fim. Mas esse universo infeliz pesou demais, quando não suportei mais segurar, ele explodiu e desatinou a descer pelos meus olhos que chorando um absurdo de amor frustrado calou pra sempre a minha voz.
Ora me culpo pela leveza representar minha fraqueza do início ao fatídico fim. Essa leveza tão frágil e falsa, nunca existiu na realidade. Sempre me iludi com a sensação de paz e peito livre. Cada dia, hora, minuto de negação era uma volta na corrente que me prenderia para sempre nessa sensação de estranheza e burrice. - Como eu fui deixar isso acontecer? - é isso. A leveza se transforma em dúvida, depois em falta de resposta e por fim em raiva e pena. Pena de mim.
- Tem dias que eu acordo morta. Não ha nada que me ressuscite. Tem dias que eu acordo viva, de modo que sofro o dia inteiro confirmando a vida sendo vivida. Mas geralmente tenho hora marcada para chorar, tenho hora certa para sentir pena de mim, dele, do mundo. Tenho a hora de ficar alheia, de morrer e de voltar. Tem dias que eu perco a memória e quando ela me reencontra, faz questão de me castigar pelo lapso.
- Sabe o que é? Os tidos piores sentimentos são os mais capazes de me fazer voltar a vida. O Peso do Mundo em mim estava me matando. Eu segurava com todas as minhas forças, nas horas de descanso a angústia vinha em forma de posse, de meso da persa, de desespero. Um tipo que eu já estava me acostumando. Um dia eu acordei com ódio da morte lenta que eu havia aceitado. Ódio de estar morrendo na infeliz conformidade. Hoje eu não sou feliz. Escolhi outro tipo de tristeza. Escolhi lutar contra a morte da minha razão. Escolhi matar um tempo para que ele reencarne em outro. Uma hora eu canso disso também. Me entrego a um amor com a certeza de que ele vai me matar, me entrego as drogas mundanas, ao mundo. Cansando disso, paro de me entregar. Escolho de novo a morte pela solidão, pela falta vital das pessoas.
Dia a dia, escolho uma nova maneira de morrer. Para afinal ter vivido com tanta intensidade(até nas horas de ócio) que até a morte vai ser um misto de prazer e vida. Nostalgia e preguiça e descobrir que não há morte. Sabe essa morte toda errada e cheia de formalidades, o velório, o caixão, as missas...? O corpo que viveu, levou junto com ele todo esse prazer da vida e morte diária. Outros corpos nascem todo dia. O físico e a casa da vida e da morte.
A vida e a morte nunca vão deixar de existir. Viver é difícil... Morrer mais ainda, mas matar é inevitável.
Eu não sou feliz, mas tenho a razão.
Sou a conclusão da morte de cada amor, cada vínculo, cada história. Viver dói, morrer é necessário. A morte modifica. Morrer é necessário.
Amanhã, não se preocupem. Eu vivo de novo. Vai ser tudo diferente, provavelmente não vou sentir dor, nem ter razão. O ciclo é esse. Mas a morte definitiva não existe. Eu não aceito. Cada morte faz parte da minha vida e minha vida morre comigo. E nasce mais uma vez todos os dias nos físicos sentimentais e suscetíveis à vida e à morte.
Sobre Ele, o Peso do Mundo, agradeço pela morte, pelo entendimento, pela vida e por tudo de ruim. Avisa que a gente se esbarra, e que eu vou sentir falta dos assassinatos e suicídios que Ele me proporcionou.

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